Novo diretor é nomeado na UPA após afastamento do médico Jan que disse; Só interna se for morrer

Uma sindicância foi aberta na UPA de Ourinhos (SP) para apurar os fatos e OAB protocolou pedido de investigação na Câmara e no Ministério Público.
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Confira o áudio acima yes

Após ter áudio vazado de diretor instruindo uma médica sobre internação de pacientes, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ourinhos nomeou um novo diretor. O nome foi divulgado nesta quarta-feira (4) pela direção da Organização Pró-vida, que administra a unidade de saúde.

Segundo a direção, o médico nomeado é Henrique Bernardes, que atua na área desde o 2012. Membro da equipe de cirurgia da Associação da Santa Casa de Misericórdia, ele também é coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) da cidade.

A diretoria da UPA estava indefinida desde o dia 27 de fevereiro, quando o então diretor, Jan Chryslen Silva da Costa, teve o áudio vazado. Na gravação, ele afirma que só era para internar em caso de morte.

A administração da UPA confirmou, em nota, que o áudio foi enviado via WhatsApp pelo diretor para a médica que fazia parte do corpo clínico da unidade emergencial de saúde, Drª Valeska Abud, que foi demitida da unidade no dia 18 fevereiro. Ele foi afastado após a divulgação do áudio feita pelo vereador Edvaldo Lúcio Abel "Vadinho" (PSDB), durante a sessão da Câmara na última quinta-feira, 27.

Na gravação, é possível ouvir o profissional dizendo que a unidade já transferiu todos os pacientes possíveis para a Santa Casa da cidade. Por isso, a orientação é não internar os pacientes, a não ser que eles fossem morrer. (escute acima)

"É para internar só se o paciente for morrer. Se o paciente não for morrer, não interna. Manda para casa, faz receita. Não é para internar se o paciente for ficar com "coisinha" no UPA. (...) A gente já mandou tudo o que tinha para mandar, não tem mais canto nenhum na Santa Casa", diz no áudio.

Em nota, o diretor afastado da UPA, Jan Chryslen Silva da Costa, informou que o diálogo foi divulgado fora de um contexto e que a intenção dele era evitar internações desnecessárias.

“Sobre o teor do áudio, é necessário esclarecer que a minha intenção era resolver um problema recorrente na UPA, consistente na realização de internações desnecessárias, por determinados plantonistas, com o simples propósito de adiar a solução do caso e transferir a incumbência para o médico que assumisse o próximo plantão”, afirma o diretor na nota.

Sobre a orientação de que era para internar só no caso do paciente que fosse morrer, o diretor informou que “as palavras que usei no áudio podem soar agressivas a pessoas que não são médicas, mas são termos comuns, entendidos perfeitamente por quem atua na área, os quais se referem a casos de grande gravidade.”

O diretor destaca ainda que já consultou seus advogados para tomar as medidas cabíveis em relação a divulgação do áudio.

 

Processo administrativo

Diante das constatações, a Organização Social Pró-Vida, que administra a UPA 24h, abriu um processo administrativo para apurar as circunstâncias do fato.

A empresa disse também que as palavras do diretor da UPA não correspondem às convicções da organização, que lamenta o fato e informa que considera a possibilidade de acionar medidas judiciais cabíveis para o seu devido esclarecimento.

A médica que recebeu o áudio foi demitida após a orientação do diretor. A profissional relatou sofrer perseguições do médico, além de críticas constantes pelos pedidos de internações. Ela disse que não acatou a ordem do diretor porque ela foi "absurda".

"Em primeiro lugar, vem os meus pacientes. Tenho que tratá-los com respeito e a ética médica me manda usar de todos os meios necessários para um diagnóstico mais preciso, e era isso que eu sempre fiz", admitiu a profissional. O Passando a Régua conversou com ela, relembre no vídeo abaixo: 

 

Saiba também: Manifesto lota Câmara, mas não sensibiliza vereadores da situação e CPI da UPA não é instalada

OAB já protocolou ofícios no Ministério Público e na Câmara

 

A OAB de Ourinhos (58ª Subseção de São Paulo) protocolou nesta terça-feira, 3, tanto no Ministério Público Estadual, como na Câmara Municipal de Ourinhos, ofícios pedindo que ambos os órgãos investiguem e apurem com rigor as ordens e critérios que estão sendo adotados pela UPA 24 (Unidade de Pronto Atendimento de Ourinhos).

A OAB de Ourinhos quer saber se a metodologia usada pela UPA de Ourinhos seguia a fala do diretor e se devido à estas ordens pessoas possam ter morrido na unidade.

“Queremos que tudo isso seja apurado. Se esta fala do diretor técnico era a metodologia adotada em todos os atendimentos na UPA de Ourinhos e se mortes foram causas em decorrência deste método durante o período em que o diretor Jan esteve à frente da Unidade”, disse o presidente da OAB de Ourinhos, Drº Fenando Alves de Moura, em entrevista ao Passando a Régua.

Drº Fernando também quer que seja investigado o número de mortes registradas na UPA e suas reais causas.

“Queremos saber quantas pessoas morreram na UPA nesta gestão e quais foram os reais motivos. Porque é preciso apurar se o método adotado pela direção técnica, que estava sobre alçada de Jan, foi o fator determinante para o registro dessas mortes”, declarou.

Relembre o vídeo: