A linha

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- João, corre aqui enfiar a linha na agulha pra mim!

Sim, era minha mãe me chamando para uma atividade básica: colocar a linha no buraco da agulha.

Era tão “facinho” que eu ficava com dó da minha mãe, por não conseguir enxergar o buraco da agulha. Mesmo com seus óculos fundo de garrafa, óculos esses que escondiam seus profundos olhos azuis de céu.

Mas era o mínimo que eu podia fazer por ela, e ela fazia o máximo por nós.

Sempre vestida no seu avental surrado, com o umbigo grudado no fogão ou no tanque, e aquele utilíssimo varal, sempre abarrotado com nossas roupas tremulando ao vento!

Às vezes eu reclamava de ter que parar de fazer algo mais “importante” para colocar a linha na agulha, insensível que eu era!

Hoje de manhã precisei colocar a linha na agulha, recorri ao meu 2.75 e depois de uma luta horrenda consegui a façanha!

Relembrei minha mãe, bateu uma implacável nostalgia, embalada pela brisa fria que tremula as folhas das árvores da rua, feito roupas velhas tremulando no varal da minha vida!

Ah, me resta fechar os olhos e rezar baixinho alguma oração que ela mesma me ensinou.

Se, quando eu morrer, Deus me conceder a honra de ir para o céu, quero reencontrar minha mãe, colocar a linha na agulha e dar um beijo nela!