Economista Maria da Conceição Tavares morre aos 94 anos

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Maria da Conceição Tavares, uma das mais proeminentes economistas do Brasil, faleceu neste sábado (8) em Nova Friburgo, aos 94 anos. Nascida em Portugal e naturalizada brasileira, Tavares foi uma referência do pensamento desenvolvimentista e formou gerações de economistas que influenciaram a trajetória econômica do país nas últimas décadas. Ela deixa dois filhos, Laura e Bruno, dois netos, Ivan e Leon, e um bisneto, Théo. A causa da morte não foi divulgada pela família.

Tavares celebrou seu 80º aniversário em 2010 na Casa do Minho, no Rio de Janeiro, reunindo uma gama de figuras ilustres, incluindo ex-governadores e ex-ministros, além dos então candidatos à presidência Dilma Rousseff e José Serra. Conhecida por seu carisma, a economista era capaz de cativar audiências, como fez em uma aula magna na UFRJ em 2009.

Nascida em 24 de abril de 1930, durante a Grande Depressão, Tavares temia que sua vida terminasse em um período de recessão global. Em uma entrevista ao GLOBO em 2018, ela expressou pessimismo sobre a situação política e econômica do Brasil, mas mantinha esperança na nova geração.

Chegou ao Brasil em 1954 e tornou-se cidadã brasileira três anos depois. Combativa, nunca foi neutra em seus posicionamentos, criticando tanto a política econômica do regime militar quanto os planos liberais dos governos de Fernando Henrique Cardoso. Defensora do Plano Cruzado nos anos 1980, chorou em frente às câmeras ao defender a preservação dos ganhos dos trabalhadores.

Durante a ditadura militar, Tavares se exilou no Chile, trabalhando na Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). Escreveu o influente texto "Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil" em 1972. Em 1974, foi presa no Rio de Janeiro, mas liberada após a intervenção do amigo Mário Henrique Simonsen.
 
Ao longo de sua carreira, Tavares escreveu mais de uma dezena de livros e ganhou o Prêmio Jabuti de Economia em 1998. Foi casada duas vezes e teve dois filhos. Vascaína apaixonada, declarou em 2012 que gostava mais de futebol do que de economia.

Sempre crítica, foi contra o Plano Real e chegou a chamar assessores do governo PT de "débeis mentais" por defenderem políticas sociais focalizadas. A amiga e vizinha Hildete Pereira de Mello organizou um livro em sua homenagem, destacando sua luta contra as barreiras enfrentadas pelas mulheres no cenário político e científico.

Em 2018, o cineasta José Mariani lançou um documentário sobre Tavares, que destacou seu idealismo e defesa do livre pensar. Apesar de suas realizações, Tavares lamentava não ter visto concretizada sua visão de uma democracia multirracial nos trópicos, um ideal inspirado por Darcy Ribeiro.

A contribuição de Maria da Conceição Tavares ao pensamento econômico e social do Brasil será lembrada por suas incisivas análises e dedicação ao desenvolvimento do país.