Empresa denuncia Câmara de Ourinhos ao MP por suposta retaliação; contrato de R$ 814 mil é rompido

Câmara faz contrato emergencial para manter o serviço de segurança.
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A empresa Terceriza Segurança Ltda, que prestava serviços de vigilância para a Câmara Municipal de Ourinhos, protocolou nesta quinta-feira, 6, uma denúncia junto à Promotoria de Justiça de Ourinhos, alegando ter sofrido retaliação por parte de "agentes políticos" da casa legislativa. Segundo o documento, a empresa teve seu contrato, no valor anual de R$ 814.836,00 (R$ 67.903,00 mensais), rescindido após se recusar a manter funcionários indicados por vereadores.

A companhia acusa os agentes políticos de exigirem a contratação de profissionais específicos, praticando ingerência no contrato. A empresa alega que, após demitir alguns desses funcionários indicados para remanejar mão de obra, sofreu retaliação que culminou na rescisão.

A Câmara Municipal, por sua vez, nega as acusações. Em nota de esclarecimento, a instituição afirma que o contrato foi extinto "após constatação de irregularidades graves" e que a rescisão seguiu o "devido processo".



A Denúncia: "Cargo de Vereador"
Na denúncia, a empresa anexa áudios de um vigilante dispensado, que afirma: "lá [na Câmara Municipal], cada vigilante é cargo de vereador" e "lá na Câmara Municipal o que eu sei, e sempre soube, é que lá é indicado por um vereador, como se fosse um cargo de confiança".

A Terceriza classifica essa suposta interferência como "grave ilegalidade", que fere a impessoalidade, burla a exigência de concurso público e configura ato de improbidade administrativa.

O Confronto de Versões: A Falha na TV Câmara
O motivo oficial para a rescisão foi a falta de um vigilante noturno exclusivo no prédio da TV Câmara. As versões sobre essa falha são conflitantes:
  • Versão da Empresa: A Terceriza afirma que seguiu "exatamente a escala repassada pelo próprio órgão". Segundo a denúncia, esse planejamento da Câmara continha apenas uma equipe noturna com dois profissionais 12x36, o que, na prática, deixava apenas um vigilante por noite. A empresa alega que a falha foi no planejamento da contratante, e não na sua execução.

     
  • Versão da Câmara: Em nota, a Câmara rebate, afirmando que a empresa "não estava cumprindo integralmente suas obrigações". Segundo a nota, a justificativa da empresa de que seguia uma escala antiga "não procede, uma vez que o objeto contratual vigente previa expressamente dois postos de vigilância 24 horas, e a empresa vinha prestando o serviço em apenas um posto".
A Câmara também listou outras irregularidades, como "substituições frequentes de pessoal, sem a devida identificação" e a designação de "um vigilante à paisana, sem o uniforme obrigatório".

Disputa sobre o Processo Legal
A empresa alega que a rescisão foi arbitrária e violou o devido processo legal. Afirma que nunca foi notificada para corrigir a suposta falha na escala, o que violaria uma cláusula do próprio contrato, e que não teve oportunidade de apresentar recurso contra a extinção.

A Câmara contesta, declarando que "notificou a empresa e, após o devido processo, extinguiu o contrato".

Contratação Emergencial
A Terceriza alertou o Ministério Público que uma possível contratação emergencial para substituí-la caracterizaria uma "emergência fabricada" pelo próprio órgão.

A Câmara Municipal confirmou que "procedeu à contratação emergencial de uma nova empresa, pelo prazo de seis meses". A instituição justificou a medida para "garantir a continuidade e a segurança do patrimônio público" e informou que o certame licitatório original foi revogado "por conveniência administrativa, considerando que a segunda colocada apresentava proposta com valor superior".

A empresa solicita ao MPSP a apuração da conduta dos servidores e vereadores supostamente envolvidos e a tomada de medidas contra a rescisão.

 
NOTA DE ESCLARECIMENTO DA CÂMARA
A Câmara Municipal de Ourinhos vem a público esclarecer que o contrato de prestação de serviços de vigilância patrimonial desarmada mantido com a empresa Terceriza foi extinto, após constatação de irregularidades graves identificadas pela fiscalização responsável pelo acompanhamento do contrato.

Durante as vistorias e relatórios de acompanhamento, foi verificado que a empresa contratada não estava cumprindo integralmente suas obrigações contratuais, uma vez que deixou de disponibilizar vigilantes para o posto noturno da TV Câmara, deixando os equipamentos do setor vulneráveis a furtos e sem a devida vigilância ambiental, necessária à preservação de equipamentos que exigem ambientes com temperatura controlada.

Além disso, constatou-se que a empresa realizava substituições frequentes de pessoal, sem a devida identificação dos profissionais substitutos e sem apresentar a documentação comprobatória da habilitação exigida. Na última semana de vigência contratual, inclusive, a contratada chegou a designar umvigilante à paisana, sem o uniforme obrigatório, em descumprimento direto das normas contratuais e de segurança.

Diante dessas infrações contratuais graves, a Câmara Municipal notificou a empresa e, após o devido processo, extinguiu o contrato.

Cumpre ressaltar que, após a notificação, a empresa Terceriza tentou atribuir à Câmara Municipal a responsabilidade por seu descumprimento, alegando que teria seguido uma escala de trabalho referente a contrato anterior. Tal justificativa, entretanto, não procede, uma vez que o objeto contratual vigente previa expressamente dois postos de vigilância 24 horas, e a empresa vinha prestando o serviço em apenas um posto, em desacordo com o contrato em vigor.

Em decorrência das falhas identificadas, a Câmara Municipal efetuou os descontos correspondentes aos serviços não prestados e revogou o certame licitatório por conveniência administrativa, considerando que a segunda colocada apresentava proposta com valor superior.

Para garantir a continuidade e a segurança do patrimônio público, bem como a integridade de servidores, vereadores e cidadãos, a Câmara Municipal procedeu à contratação emergencial de uma nova empresa, pelo prazo de seis meses, até a realização de novo processo licitatório para contratação definitiva do serviço.

A Câmara Municipal de Ourinhos reafirma seu comprometimento com a legalidade, a transparência e a boa gestão dos recursos públicos, adotando todas as medidas necessárias para a proteção de seu patrimônio e o fiel cumprimento dos contratos firmados.