Estudante de veterinária de Minas Gerais viraliza ao revelar que busca eutanásia para se ver livre de ‘pior dor do mundo'

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Nesta semana, Carolina Arruda, de 27 anos, moradora de Bambuí, Minas Gerais, viralizou ao compartilhar sua dolorosa rotina com a neuralgia do trigêmeo, um distúrbio raro que afeta aproximadamente 4,3 pessoas a cada 100 mil e é conhecido por causar "a pior dor do mundo".

A estudante de Medicina Veterinária revelou que, após quase 10 anos convivendo com dores diárias, decidiu optar pela eutanásia na Suíça, onde o procedimento é legal, já que no Brasil a morte voluntária não é permitida. Carolina iniciou uma vaquinha online para arrecadar os 150 mil reais necessários para a viagem e o procedimento. Em apenas três dias, a campanha já havia arrecadado 44 mil reais.

"Eu sou da área de veterinária, então sempre vi a eutanásia como um alívio digno para o sofrimento. Vejo isso nos animais, às vezes precisamos recorrer à eutanásia para que ele não fique apenas sobrevivendo à base de medicamentos. Comecei a internalizar isso desde muito nova e pensar na possibilidade de colocar um fim no meu sofrimento de forma digna", disse Carolina ao jornal O Globo.

A Condição e Seus Efeitos
A neuralgia do trigêmeo é um distúrbio caracterizado por dores crônicas e incapacitantes ao longo do nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade tátil, térmica e dolorosa da face. As dores são descritas como agudas, intensas, semelhantes a choques ou pontadas, e são consideradas algumas das piores dores conhecidas. As crises podem durar de segundos a minutos e ocorrer várias vezes ao dia. No caso de Carolina, a condição é bilateral, afetando ambos os lados do rosto.

Especialista Explica a Condição
O neurologista Vinícius Boaratti Ciarlariello, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, explica que há três principais causas relacionadas à doença. A primeira é a compressão do nervo por vasos e artérias ao seu redor, causando um "curto-circuito" no nervo. A segunda é quando a neuralgia ocorre de forma secundária a outros problemas de saúde, como doenças inflamatórias, infecções virais, tumores, aneurismas e esclerose múltipla. Por fim, a terceira causa é idiopática, quando não se encontra uma alteração anatômica que justifique a doença.
"O diagnóstico da doença é clínico e deve ser feito através de consulta médica com um neurologista, associado a investigação complementar com exames de imagem do cérebro e, em alguns casos, com coleta de líquido cefalorraquidiano", diz Ciarlariello.
Tratamento e Desafios
A primeira linha de tratamento para a neuralgia do trigêmeo é o uso de medicamentos, incluindo antidepressivos e anticonvulsivantes, para diminuir os disparos anormais do nervo que causam a dor. Quando os medicamentos não são suficientes, a cirurgia é considerada. Técnicas como a descompressão do nervo são opções, mas são procedimentos invasivos com riscos e taxas de sucesso variáveis.

"É importante salientar que os pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos ainda podem continuar com dor, e que isso não necessariamente os faria deixar de usar medicamentos. Infelizmente, não se pode dizer que a Neuralgia do Trigêmeo seja uma condição curável na maioria dos casos. Entretanto, isso não quer dizer que o paciente não possa ter suas dores controladas. Alguns pacientes podem ter seus sintomas resolvidos, embora não seja infrequente ver pacientes 'curados' voltando a ter dor em algum momento no futuro", explica o neurologista.

A luta de Carolina Arruda sensibilizou e mobilizou muitos na internet, levantando debates sobre a eutanásia e a busca por alívio para dores crônicas e insuportáveis. Enquanto isso, ela continua sua campanha para arrecadar os fundos necessários e realizar seu desejo de uma morte digna, longe do sofrimento incessante causado pela neuralgia do trigêmeo.