FDA aprova injeção semestral para prevenção do HIV com eficácia de até 100%

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A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, aprovou nesta semana o uso do medicamento lenacapavir — nome comercial Yeztugo, da farmacêutica Gilead Sciences — como novo esquema de profilaxia pré-exposição (PrEP) contra o HIV, voltado à prevenção da infecção por meio de duas injeções por ano.

Aprovado para adultos e adolescentes com mais de 35 kg, o lenacapavir é visto como inovador por sua alta eficácia e baixa frequência de aplicação, o que pode facilitar a adesão de usuários à PrEP — hoje oferecida principalmente em forma de comprimidos diários, inclusive no SUS desde 2017.

Eficácia próxima de 100%
Em estudos clínicos, o lenacapavir demonstrou eficácia de até 100% na prevenção do HIV. No estudo Purpose-1, envolvendo 5.300 mulheres cisgênero na África do Sul e Uganda, nenhuma participante que recebeu a injeção foi infectada, enquanto 55 casos foram registrados no grupo que usava a PrEP oral.

Outro ensaio, o Purpose-2, com 3.300 pessoas de diferentes gêneros e etnias em países como Brasil, Peru, México, EUA e Tailândia, também comprovou a alta eficácia: apenas dois casos entre os que usaram o lenacapavir, contra nove entre os que tomaram comprimidos. A eficácia estimada foi de 96% em comparação com a população não tratada.

Avanço histórico na prevenção
Para Daniel O’Day, CEO da Gilead, a aprovação representa “um dia histórico na luta contra o HIV”. A UNAIDS e a AVAC — organizações internacionais de combate à Aids — também celebraram a decisão. A revista Science, inclusive, classificou o lenacapavir como a “descoberta do ano” em 2024.

Segundo o especialista Carlos del Rio, da Universidade Emory (EUA), a nova fórmula pode superar barreiras de adesão associadas ao estigma e à rotina de uso diário dos comprimidos. “Uma injeção a cada seis meses pode ser a chave para alcançar quem mais precisa da PrEP”, afirmou.

Barreira no acesso: o preço
Apesar da aprovação, o alto custo do medicamento — cerca de US$ 40 mil por ano (em torno de R$ 220 mil) — preocupa autoridades e entidades de saúde. A Gilead firmou acordos com fabricantes para produzir versões genéricas mais acessíveis em 120 países de baixa e média renda, mas o Brasil ficou de fora dessa lista.

Estudos apontam que uma versão genérica poderia custar entre US$ 35 e US$ 46 por ano, tornando o acesso amplamente viável. A Unaids cobrou que a farmacêutica “faça a coisa certa”, reduzindo preços e garantindo a distribuição equitativa do remédio.

Não é vacina, mas sim tratamento preventivo
Apesar de ser injetável e prevenir infecções, o lenacapavir não é uma vacina. Trata-se de um antirretroviral que permanece circulando no organismo, bloqueando o HIV em caso de exposição. Diferente das vacinas, ele não ativa o sistema imunológico para produzir anticorpos. Se a aplicação for interrompida, a proteção desaparece.

O medicamento já era usado com o nome Sunlenca no tratamento de HIV resistente, mas agora ganha uma nova função: impedir que o vírus se instale em pessoas não infectadas.

A expectativa é que o lenacapavir revolucione a forma de prevenir o HIV, especialmente em populações vulneráveis, desde que políticas públicas e estratégias de acesso acompanhem o avanço científico.