Dos amigos sobrou apenas o velho cão, o parceiro e fiel Torpedo, deitado ali ao lado, não menos judiado pelo tempo, não menos desiludido!
Depois de muito implorar um cigarro para os que ali passavam, eis que uma alma bendita, de terno branco, saca um Continental sem filtro, risca o fósforo, acende o cigarro, e segue sentido prefeitura... Ele nem tem tempo de agradecer, respira fundo, dá uma longa tragada e solta a fumaça numa baforada só.

Naquele instante as lembranças se evidenciam junto com a fumaça branca do cigarro e o atormentam, feito sombras carregadas de desilusões... Como não lembrar os charutos que tanto apreciava... Quantos charutos cubanos não lascou fogo com seu isqueiro de fluído azul, também, importado?
Seu estoque com mais de dez mil sacas de café garantiam a ostentação... Enquanto o IBC garantia o preço mínimo ele seguia especulando com a safra dos pequenos produtores...
Aquilo tudo o seduzia: o cheiro dos charutos, o Johnnie Walker, o Simca Chambord para viagens de negócios ou para levá-lo duas vezes por mês na Casa da Eny, em Bauru.

Pagava garrafa de cerveja com nota de cem cruzeiros, feito coronel em salão de zona... Exigia que colocassem Pablo MIlanés na vitrola... Gostava de ouvir Yolanda e deitar com Yolanda - a jovem mais interessante daquele cabaret. Um lugar de prazeres comprados e alegrias ilusórias.
Mas o tempo passou...
Agora está aqui, sentado na calçada fria do Teatro Municipal, todo maltrapilho, com alma e olhar perdido... Queria muito voltar para sua terra natal, Ourinhos, e morrer abraçado ao Rio Paranapanema... Pura ilusão – com que dinheiro?
Sua memória vem tendo “apagão” faz muito tempo, o que não o impede de notar que o relógio na fachada do antigo Mappin, há tempos, vem marcando dez para as três... O mesmo Mappin onde comprava seus ternos cor de leite condensado, de linho branco e risca de giz.
Levanta-se, dispensa o imundo cobertorzinho xadrez, encosta suas tralhas ao lado de uma lixeira e fala, entre tosses, pro Torpedo:
- Fica aí Torpedo, eu já volto!
Mais por desânimo que por obediência o cão fica ali, deitado, inerte.
Instantes depois, juntamente com o som das buzinas e motores dos carros ouve-se um barulho chocho... Pessoas se aglomeram nas muretas do Viaduto do Chá olhando para baixo... O corpo estendido suspira pela última vez no prolongamento da Vinte e Três de Maio.
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É agosto, são dez para as três da tarde em São Paulo, cai uma garoa fina e fria, termômetros marcam 11 graus na Praça Ramos de Azevedo!
Depois de muito implorar um cigarro para os que ali passavam, eis que uma alma bendita, de terno branco, saca um Continental sem filtro, risca o fósforo, acende o cigarro, e segue sentido prefeitura... Ele nem tem tempo de agradecer, respira fundo, dá uma longa tragada e solta a fumaça numa baforada só.

Naquele instante as lembranças se evidenciam junto com a fumaça branca do cigarro e o atormentam, feito sombras carregadas de desilusões... Como não lembrar os charutos que tanto apreciava... Quantos charutos cubanos não lascou fogo com seu isqueiro de fluído azul, também, importado?
Seu estoque com mais de dez mil sacas de café garantiam a ostentação... Enquanto o IBC garantia o preço mínimo ele seguia especulando com a safra dos pequenos produtores...
Aquilo tudo o seduzia: o cheiro dos charutos, o Johnnie Walker, o Simca Chambord para viagens de negócios ou para levá-lo duas vezes por mês na Casa da Eny, em Bauru.

Pagava garrafa de cerveja com nota de cem cruzeiros, feito coronel em salão de zona... Exigia que colocassem Pablo MIlanés na vitrola... Gostava de ouvir Yolanda e deitar com Yolanda - a jovem mais interessante daquele cabaret. Um lugar de prazeres comprados e alegrias ilusórias.
Mas o tempo passou...
Agora está aqui, sentado na calçada fria do Teatro Municipal, todo maltrapilho, com alma e olhar perdido... Queria muito voltar para sua terra natal, Ourinhos, e morrer abraçado ao Rio Paranapanema... Pura ilusão – com que dinheiro?
Sua memória vem tendo “apagão” faz muito tempo, o que não o impede de notar que o relógio na fachada do antigo Mappin, há tempos, vem marcando dez para as três... O mesmo Mappin onde comprava seus ternos cor de leite condensado, de linho branco e risca de giz.
Levanta-se, dispensa o imundo cobertorzinho xadrez, encosta suas tralhas ao lado de uma lixeira e fala, entre tosses, pro Torpedo:
- Fica aí Torpedo, eu já volto!
Mais por desânimo que por obediência o cão fica ali, deitado, inerte.
Instantes depois, juntamente com o som das buzinas e motores dos carros ouve-se um barulho chocho... Pessoas se aglomeram nas muretas do Viaduto do Chá olhando para baixo... O corpo estendido suspira pela última vez no prolongamento da Vinte e Três de Maio.
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É agosto, são dez para as três da tarde em São Paulo, cai uma garoa fina e fria, termômetros marcam 11 graus na Praça Ramos de Azevedo!