João Neto: Feito de Açúcar

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Naquele domingo de março amanheceu chovendo gostoso, o céu completamente fumê.

E quem disse que deu coragem de levantar e ir até o seminário para a missa das sete e meia?
 
A rua Dom José Marello ainda não era asfaltada, choveu a noite toda, a rua devia estar toda enlameada, um sabão!
- Mamãe, não vai ter jeito de ir à missa, está chovendo desde ontem, sem parar!

Ela não se opôs, porém, fez com que todos, mesmo deitados, rezassem uma Ave Maria, um Creio e um Pai Nosso. Eu gostei, ficaria um tempo mais na cama, até começar o cheiro do almoço, e nunca houve nada mais gostoso que o cheiro do almoço de domingo!

Para minha mãe, todo momento ocioso era motivo para reflexão e oração, fazia a gente rezar antes de dormir, antes das refeições e ao acordarmos principalmente, dizia que no silêncio da manhã Deus ouvia melhor nossas preces.

Na terça-feira, após nossa ausência na missa do domingo, no Catecismo, Padre Bernardino, com ares de poucos amigos, me intimou na frente dos demais catequizandos:

- Por que você não veio na missa de domingo, João?

- Tava chovendo demais, Padre!

- Qual o problema, você é feito de açúcar por acaso?

Pois é, depois dessa nunca mais faltei às missas de domingo!

Palavras da Salvação!!