Naqueles tempos, tão carentes quanto distantes, eu era uma espécie de responsável pelo gerenciamento do feijão da semana, afinal, eu tinha que ir na segunda-feira, no Empório do Toloto, na Barra Funda, comprar três litros de feijão, e o dito cujo tinha que durar até na segunda-feira seguinte, aliás, durava até domingo, pois na segunda a gente comia somente o “soborô”, e na terça-feira de manhã era o dia de cozinhar o feijão novo.
- Ué, João... três “litros” de feijão? Tá certo?
- Sim, a medida regulamentar da época era uma lata de óleo vazia - de um litro, devidamente adaptada com uma alça do mesmo material, portanto, três litros de feijão correspondiam a exatamente três latas até a boca.

Lata de óleo para comprar o feijão (Foto: Arquivo Pessoal)
Bem... Chegando em casa, a etapa seguinte era “escolher o feijão”, ação que consistia em retirar toda a sujeira do feijão: pedriscos, palhas, gravetos, ciscos, grãos estragados e todas a impurezas contidas. Tinha que tirar tudo mesmo, Dona Conceição era exigente demais.
A etapa seguinte era lavar o feijão e deixar de molho na água até a manhã seguinte.
Na manhã seguinte minha mãe prosseguia todo processo: colocava o feijão pra cozinhar no fogareiro perto do tanque, acrescentava alguns pedaços de couro do toucinho dependurado em cima do fogão de lenha... Minha função era cronometrar o tempo de cozimento:
- João, a hora que o feijão começar a ferver conta uma hora, aí tira o feijão do fogo!
- Como eu vou saber que o feijão está fervendo normalmente, mãe?
- É só prestar atenção, na hora em que os caroços do feijão começarem a correr um atrás do outro, conta uma hora e tira do fogo.
Uma hora depois o feijão estava cozido, minha mãe já tinha fritado alho picado na banha de porco, depois derramava aquela gordura fervendo sobre o feijão cozido (vixe, cheguei sentir aquele cheiro delicioso neste instante), colocava sal, depois minha mãe socava o feijão até o caldo ficar bem grosso.
Um ritual que se repetiu por muitos anos, verdadeira homilia da felicidade.
Hoje, olhando para os meus guardados, vejo a mesma panela de feijão, marrom, de ferro esmaltado. Ela também envelheceu, descascou e furou, mas, por se tratar do utensílio preferido da minha mãe, guardo com carinho... Até plantei “ora-pro-nóbis” nela, para nunca esquecer de um tempo feliz, que guardarei pra sempre em meu coração.

Panela da mãe guardada até hoje (Foto: Arquivo Pessoal)
- Ué, João... três “litros” de feijão? Tá certo?
- Sim, a medida regulamentar da época era uma lata de óleo vazia - de um litro, devidamente adaptada com uma alça do mesmo material, portanto, três litros de feijão correspondiam a exatamente três latas até a boca.

Lata de óleo para comprar o feijão (Foto: Arquivo Pessoal)
Bem... Chegando em casa, a etapa seguinte era “escolher o feijão”, ação que consistia em retirar toda a sujeira do feijão: pedriscos, palhas, gravetos, ciscos, grãos estragados e todas a impurezas contidas. Tinha que tirar tudo mesmo, Dona Conceição era exigente demais.
A etapa seguinte era lavar o feijão e deixar de molho na água até a manhã seguinte.
Na manhã seguinte minha mãe prosseguia todo processo: colocava o feijão pra cozinhar no fogareiro perto do tanque, acrescentava alguns pedaços de couro do toucinho dependurado em cima do fogão de lenha... Minha função era cronometrar o tempo de cozimento:
- João, a hora que o feijão começar a ferver conta uma hora, aí tira o feijão do fogo!
- Como eu vou saber que o feijão está fervendo normalmente, mãe?
- É só prestar atenção, na hora em que os caroços do feijão começarem a correr um atrás do outro, conta uma hora e tira do fogo.
Uma hora depois o feijão estava cozido, minha mãe já tinha fritado alho picado na banha de porco, depois derramava aquela gordura fervendo sobre o feijão cozido (vixe, cheguei sentir aquele cheiro delicioso neste instante), colocava sal, depois minha mãe socava o feijão até o caldo ficar bem grosso.
Um ritual que se repetiu por muitos anos, verdadeira homilia da felicidade.
Hoje, olhando para os meus guardados, vejo a mesma panela de feijão, marrom, de ferro esmaltado. Ela também envelheceu, descascou e furou, mas, por se tratar do utensílio preferido da minha mãe, guardo com carinho... Até plantei “ora-pro-nóbis” nela, para nunca esquecer de um tempo feliz, que guardarei pra sempre em meu coração.

Panela da mãe guardada até hoje (Foto: Arquivo Pessoal)