João Neto: Silêncio do Coração

Compartilhe:
Quantos atropelos, quanta correria desnecessária a ponto de canibalizar momentos. Nem, ao menos, prestei atendimento emergencial, e esses momentos ficaram para trás, agonizantes, enquanto eu segui minha correria desenfreada.

Corria tanto que, às vezes, me faltava fôlego. Ocorre que somos mutantes... Não falo dos mutantes dos filmes de ficção, que ejetam monstros de tudo que é poro... Somos mutantes na versão 'revisão dos conceitos': adaptáveis, recicláveis, ajustáveis e passíveis de adequação.

Eis que chega a metamorfose pretendida... Momento da pausa, do respirar profundo, do sentir a brisa escorrendo telhados e da chuva beijando vidraças.

Agora estás aqui... Hora de ‘curtir’ a vida e compartilhar a posse definitiva da felicidade.

Não corro mais, encontrei o lado que me faltava... Hoje saboreio e cálculo cada passo, experimento seus passos, piso com eles. No instante em que mudas o passo, as coisas passam, nossos passos passam, siameses - lado a lado, e deixam pegadas no cimento molhado.

Eu, ainda lagarta, te convido a me ensinar voar, borboleta. Minha vida agora é sua, vamos sair por aí e surfar nossos sonhos... Vamos flanar por rios de espuma, caminhar avenidas e colher sempre-vivas.

Sinta minha mão na tua mão... Percebe? Está viva, deliciosamente viva! Agora, encoste sua cabeça no meu peito, vou fazer silêncio, prometo... Ouça apenas o som do meu coração: tum-tum tum-tum tum-tum...