João Neto: Uma Alma Pura

Compartilhe:
Canuta era miúda, magrinha e carismática. Rosto fino, andar ligeiro e um permanente lenço na cabeça.

Ícone marcante da nossa cidade, perambulava pela Barra Funda, Vila Marcante e Vila Perino, cantarolando "Lady Laura", do Rei Roberto Carlos.

Recolhia lavagem para alimentar os porcos que a família criava no quintal da casa, na esquina da Gaspar Ricardo com a Rua Santa Catarina.

Essa sua coleta diária justifica a constância de seu inseparável baldinho de alumínio amassado.

Canuta era enigmática, cheia de interrogações quanto sua capacidade mental, porém, baita amiga de todas as famílias, tinha acesso livre nas casas que visitava.

Não perdia um velório sequer, era presença cativa nas missas do seminário.

Canuta era tão querida e pura que alguns acreditavam que sua alma, do bem, carregava uma certa santidade.

Tinha boa conversa, o que a tornava bem-vinda em todas as residências desse lado da cidade, o café e as bolachas já ficavam reservados pra ela.

Falava fervorosamente de Deus, dizia que um dia se casaria com o cantor Roberto Carlos.

Numa manhã de sol, Canuta foi atropelada por um caminhão da prefeitura, bem na esquina da Farmácia Coração de Jesus, no cruzamento da Duque de Caxias com a Jacinto Sá.

Afirmo que o velório da Canuta foi uma das maiores tristezas que já vi, a cidade chorou. Tenho certeza que Canuta virou anjo no céu!