Menino de 3 anos que morreu após ser picado em Cambará sofreu 33 paradas cardíacas

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A morte trágica do pequeno Bernardo Gomes de Oliveira, de 3 anos, continua repercutindo fortemente em Cambará, no norte do Paraná, e em todo o estado. O menino faleceu nesta terça-feira, 15, após ser picado por um escorpião-amarelo que estava escondido dentro de seu tênis, segundo relataram os pais à RPC, afiliada da TV Globo.

O acidente ocorreu na manhã de domingo (13), enquanto a família se preparava para visitar a avó da criança. Bernardo, sozinho, calçou o par de sapatos que estava secando em uma mureta e, ao colocar o segundo pé, foi picado pelo escorpião. Em desespero, o menino correu gritando de dor. O animal foi encontrado depois sob um tapete dentro da casa.

Segundo o pai, Márcio Oliveira, o bairro onde moram é novo e cercado por terrenos baldios. Ele afirmou já ter encontrado outros escorpiões no quintal, inclusive dois no mês anterior.

Atendimento e falhas no processo
A criança foi levada às pressas ao Hospital Municipal de Cambará por volta das 8h45, onde foi medicada. Devido à gravidade do caso, a equipe médica recomendou transferência para a Santa Casa de Jacarezinho — a única unidade com soro antiescorpiônico disponível na região.

Contudo, a ambulância demorou a chegar, e durante a espera, Bernardo começou a vomitar e piorou clinicamente. A liberação para transferência só aconteceu às 10h17, mais de uma hora depois da entrada.

Ao chegar em Jacarezinho, os pais relataram que não havia antídoto suficiente. “Meu menino precisava de seis ampolas e só tinha cinco”, disse a mãe, Bianca Gomes. Bernardo foi intubado e transferido de helicóptero ao Hospital Universitário de Londrina, onde a morte foi confirmada na tarde do dia seguinte, após ele sofrer 33 paradas cardíacas, segundo a família.

Repercussão e respostas
A tragédia comoveu o Paraná e gerou grande repercussão na imprensa estadual. A Secretaria de Estado da Saúde (SESA-PR) informou que, em casos como esse, o município deve acionar imediatamente a Regional de Saúde, responsável pela liberação emergencial do soro.

Entretanto, segundo a SESA, nem o Hospital Municipal de Cambará nem a Santa Casa de Jacarezinho acionaram a 19ª Regional, que fica a apenas 20 minutos de Cambará. Diante da grave falha, a Secretaria Estadual determinou a abertura de uma investigação para apurar os procedimentos adotados.

O secretário de Saúde de Cambará, Ronaldo Guardiano, justificou que a ambulância utilizada atende a mais de um município e estava em Jacarezinho no momento do chamado. Ele também destacou que a orientação oficial da 19ª Regional é de manter os soros apenas nos hospitais de referência — o que deixa cidades menores desassistidas em situações de emergência.

Comoção e apelo por mudanças
A morte do menino saudável e ativo causou profunda tristeza na comunidade local. "Ele era independente, alegre, corria, caía, levantava, dava risada", lembrou a mãe emocionada. A família clama por justiça e medidas que impeçam que novas tragédias ocorram por falta de infraestrutura e organização no atendimento de emergência.

O caso também reacendeu o debate sobre a ausência de estoques de soro antiescorpiônico em cidades menores e a necessidade de ações preventivas em áreas com risco elevado de infestação de escorpiões.

Enquanto as investigações seguem, a população de Cambará e de outras cidades da região cobra mais responsabilidade das autoridades e maior estrutura para salvar vidas.