Metanol: especialista alerta para riscos de cegueira e morte após ingestão em bebidas adulteradas

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O metanol, substância associada a pelo menos três mortes em São Paulo e São Bernardo do Campo nos últimos dias, pode causar graves danos à saúde, incluindo cegueira irreversível e até óbito. A substância, também chamada de álcool metílico, é usada de forma irregular para adulterar bebidas alcoólicas como gim, whisky, vodka e cachaça.

Segundo o médico toxicologista Álvaro Pulchinelli Junior, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), os primeiros sintomas surgem logo após a ingestão e se assemelham aos sinais de embriaguez, como fala arrastada e reflexos lentos.

De acordo com a farmacêutica Andreia Vidal, da unidade de Toxicologia Ocupacional do laboratório DB, os efeitos mais graves aparecem entre 16 e 30 horas depois do consumo, quando o metanol já foi metabolizado pelo organismo. Os sintomas incluem náuseas, vômitos, tontura, dor abdominal, fraqueza e, em casos severos, podem evoluir para coma ou morte.

Um dos impactos mais críticos é sobre a visão. “A pessoa passa a enxergar borrado, com brilhos e perda progressiva da visão, podendo chegar à cegueira definitiva”, explicou Pulchinelli. O risco levou a Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia (ABNO) a emitir um alerta nacional no último domingo (28), destacando que o problema é uma emergência médica e oftalmológica.

Ajuda imediata é fundamental
Pulchinelli reforça que, diante de qualquer suspeita de intoxicação, o paciente deve procurar atendimento médico imediatamente. “Não ache que ficar em casa vai resolver, você estará perdendo um tempo precioso para a introdução do antídoto”, alertou.

Risco invisível nas bebidas adulteradas
O metanol não possui cheiro nem sabor, o que torna impossível identificar sua presença apenas ao consumir a bebida. O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) lembra que cerca de 25% do álcool consumido no mundo é ilegal, segundo a OMS. Um estudo publicado em 2020 na Nature Food apontou que, entre 2017 e 2019, mais de 7.100 pessoas foram intoxicadas em surtos de envenenamento por metanol, resultando em 1.888 mortes – a maioria na Ásia.

Como se proteger
O Cisa orienta consumidores a adotarem cuidados para evitar o consumo de bebidas falsificadas:
  • Verifique embalagens, rótulos e lacres; desconfie de erros ortográficos e impressões de má qualidade.
  • Evite preços muito abaixo do mercado, especialmente em vendas online.
  • Prefira comprar em estabelecimentos confiáveis.
  • Atenção redobrada com bebidas vendidas na rua, principalmente drinks prontos.
  • Whisky, gim, vodka e cachaça estão entre as bebidas mais falsificadas.
O caso acendeu um alerta para a fiscalização do comércio ilegal de bebidas e para a necessidade de maior conscientização da população sobre os riscos do consumo de produtos adulterados.