Morte de Francisco abre caminho para novo papa; conheça os favoritos ao trono de Pedro

Saiba quem são os cardeais brasileiros aptos a disputar o cargo de papa.
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Com a morte do papa Francisco nesta segunda-feira (21), o Vaticano inicia um novo e solene capítulo em sua história. Líder da Igreja Católica desde 2013, o pontífice argentino deixa um legado marcado por reformas, aproximação com os marginalizados e uma abordagem pastoral progressista. Agora, a Igreja se prepara para eleger seu sucessor, em um processo regido por tradição, política e fé.

Até a escolha do novo papa, a Igreja será conduzida interinamente pelo Colégio dos Cardeais, que assume as decisões urgentes em um regime de governo temporário conhecido como Sede Vacante. O Conclave — reunião secreta que escolhe o próximo pontífice — deve ser iniciado entre 15 e 20 dias após a morte do papa. Ao todo, 135 cardeais com menos de 80 anos estão aptos a votar, incluindo sete brasileiros.

Entre os nomes mais cotados para suceder Francisco, figuras de diferentes origens e perfis ideológicos despontam como favoritos:

Jean-Marc Aveline (França, 66 anos)

Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha, francês, 66 anos — Foto: Vaticano/Divulgação

O arcebispo de Marselha é visto como um dos principais herdeiros espirituais de Francisco. Com estilo descontraído, simplicidade e sólida formação intelectual — doutorado em teologia e graduação em filosofia —, Aveline tem trajetória ascendente. Nascido na Argélia, filho de imigrantes espanhóis, sua atuação destaca-se pela abertura ao diálogo inter-religioso, especialmente com o mundo muçulmano, e defesa dos migrantes. Caso eleito, seria o primeiro papa francês desde o século XIV e o mais jovem desde João Paulo II.

Peter Erdo (Hungria, 72 anos)

Cardeal Peter Erdo, húngaro, 72 anos — Foto: Vatican News/Divulgação

Figura forte no último conclave, Erdo representa uma ala mais conservadora, mas pragmática. Com especialização em direito canônico e carreira meteórica, ele liderou esforços pela "Nova Evangelização" na Europa. No entanto, sua postura durante a crise migratória de 2015 — quando se opôs ao acolhimento de refugiados — o colocou em rota de colisão com o pensamento de Francisco, alinhando-se a políticas nacionalistas do governo húngaro.

Mario Grech (Malta, 68 anos)

Cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, maltês, 68 anos — Foto: Arquidiocese de Braga/Divulgação

Secretário-geral do Sínodo dos Bispos, Grech representa uma evolução dentro da Igreja: de conservador ortodoxo a defensor das reformas iniciadas por Francisco. Ele é visto como articulador do diálogo com comunidades LGBT e de novas abordagens para famílias contemporâneas. Sua trajetória o coloca como uma voz de equilíbrio entre tradição e renovação.

Juan José Omella (Espanha, 79 anos)

Cardeal Juan Jose Omella, arcebispo de Barcelona, ??espanhol, 79 anos — Foto: Vatican News/Divulgação

O arcebispo de Barcelona é um defensor da justiça social e da visão pastoral inclusiva. Sua atuação junto a organizações humanitárias e a defesa dos pobres o tornaram um símbolo da ala progressista da Igreja espanhola. Francisco o promoveu rapidamente, evidenciando sua confiança no espanhol. Contudo, sua idade próxima do limite para votação no Conclave pode pesar contra sua eleição.

Pietro Parolin (Itália, 70 anos)

Cardeal Pietro Parolin, italiano, diplomata do Vaticano, 70 anos — Foto: Vatican News/Divulgação

Atual secretário de Estado do Vaticano, Parolin é um dos nomes mais experientes e influentes da cúria romana. Conhecido como diplomata hábil, comandou negociações delicadas com países como China e Venezuela. Embora seja cauteloso em temas polêmicos, é considerado conservador em temas morais. Sua postura reservada, mas eficiente, o torna um candidato forte e com apoio interno.

Luis Antonio Tagle (Filipinas, 67 anos)

Cardeal Luis Antonio Gokim Tagle, filipino — Foto: Vatican News/Divulgação

Conhecido como o “Francisco Asiático”, Tagle é carismático, próximo dos pobres e defensor de causas sociais. Com raízes filipinas e chinesas, seria o primeiro papa asiático. Sua transferência para Roma, para comandar o Dicastério para a Evangelização, foi vista como um "treinamento papal". Sua nomeação também representaria a crescente importância da Ásia para o futuro da Igreja.

Joseph Tobin (EUA, 72 anos)

Cardeal Joseph Tobin, arcebispo de Newark, NJ, americano, 72 anos — Foto: Vaticano/Divulgação

Arcebispo de Newark, Tobin é reconhecido por sua postura transparente e acolhedora. Ganhou destaque ao liderar a Arquidiocese após escândalos sexuais e por sua abertura à comunidade LGBTQIA+. Apesar do forte perfil, a tradição histórica de não eleger um papa dos Estados Unidos pode dificultar sua eleição.

Peter Turkson (Gana, 76 anos)

Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, ganês, funcionário do Vaticano, 76 anos — Foto: Vatican News/Divulgação

Visto como possível primeiro papa africano desde a Antiguidade, Turkson combina uma trajetória pastoral rica com experiência na alta administração vaticana. Com atuação marcante em temas como justiça social, direitos humanos e mudanças climáticas, ele já foi apontado como “conselheiro climático” do papa Francisco. Sua origem humilde e formação intelectual reforçam seu apelo entre os cardeais do Sul global.

Matteo Zuppi (Itália, 69 anos)

Matteo Maria Zuppi, italiano, arcebispo de Bolonha, 69 anos — Foto: Vatican News/Divulgação

Arcebispo de Bolonha, Zuppi é chamado de “Bergoglio italiano” por sua atuação voltada aos pobres e migrantes. Simples, direto e carismático, é próximo dos movimentos populares. Porém, enfrenta críticas por suposta lentidão na condução de casos de abuso sexual na Igreja Italiana, o que pode pesar contra sua candidatura.

Saiba quem são os cardeais brasileiros
Sete cardeais brasileiros vão participar do conclave, a eleição para a escolha do novo comandante da Igreja Católica. Dois deles são da capital: o arcebispo de Brasília, Paulo Cezar Costa, e o arcebispo Emérito, João Braz de Aviz, que deixou o posto ao completar 75 anos. Hoje, ele tem 77 anos.

Os dois irão para Roma até o fim da semana, conforme prevê o Conclave. Além deles, outros cinco cardeais estarão aptos para a eleição. Veja a lista completa abaixo:
  • Cardeal Dom Paulo Cezar Costa, de Brasília;
  • Cardeal João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília;
  • Cardeal Odilo Pedro Scherer, de São Paulo;
  • Cardeal Jaime Spengler, de Porto Alegre, atual presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB);
  • Cardeal Sérgio da Rocha, de Salvador;
  • Cardeal Orani João Tempesta, do Rio de Janeiro;
  • Cardeal Leonardo Steiner, de Manaus.

Da esquerda para a direita, cardeais Dom Paulo Cezar Costa, de Brasília; João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília; Odilo Pedro Scherer, de São Paulo; e Jaime Spengler, de Porto Alegre — Foto: Reprodução


Da esquerda para a direita, cardeais Sérgio da Rocha, de Salvador; Orani João Tempesta, do Rio de Janeiro; e Leonardo Steiner, de Manaus. — Foto: Reprodução

Também vai embarcar o cardeal Dom Raymundo Damasceno, mas ele não participa da eleição por ter mais de 80 anos.

A eleição é secreta e feita por folhas de papel depositadas em uma urna. O novo papa será o que obtiver dois terços dos votos. Nesta segunda, Dom Paulo Cezar afirmou não ser candidato, e segundo ele, isso nem foi discutido entre cardeais em respeito ao papa.

'Ninguém se candidata. É diferente de uma eleição para presidente, é diferente de uma eleição para governador, ninguém se candidata. Se discute a primeira parte, o Dom Raimundo já participou, pode contar mais, melhor, como é. A primeira parte se discute os problemas da igreja, não é isso? Se discute os problemas da igreja e ali já começa a se delinear perfis que possam ocupar o papel de bispo de Roma e por isso papa da Igreja'.

Já o arcebispo emérito de Aparecida, Raymundo Damasceno, que já participou do conclave, negou haver uma disputa interna.

'Muita gente fica pensando que é uma briga, uma luta interna dos cardeais, para ver quem vai ser o Papa. Pelo contrário, acho que cada um está pensando, 'pelo amor de Deus, me livre disso', né? Porque é uma missão, uma responsabilidade muito grande'.

A eleição, durante o Conclave, é secreta e feita em folhas de papel depositadas em uma urna. O novo papa será o que obtiver pelo menos dois terços dos votos e as votações são repetidas até que se alcance este número. Por isso, a eleição pode levar horas ou dias, até. O resultado é divulgado após cada votação. As cédulas são queimadas e se a fumaça da chaminé da Capela Sisitina for negra, significa que não há nenhum eleito. Se for branca, é porque a Igreja Católica já tem um novo líder.