Paulo Cupertino é condenado a 98 anos de prisão por assassinato de ator Rafael Miguel e seus pais

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Após dois dias de julgamento, o empresário Paulo Cupertino Matias foi condenado, nesta sexta-feira (30), a 98 anos de prisão em regime fechado pelo assassinato do ator Rafael Miguel e dos pais dele, João Alcisio e Miriam Selma Miguel. O crime, cometido em junho de 2019, ocorreu na frente da casa da então namorada do ator, em São Paulo. A sentença foi dada pelo juiz Antonio Carlos Pontes de Souza, da 1ª Vara do Júri da Capital, com base na decisão da maioria dos sete jurados — quatro homens e três mulheres — que compuseram o tribunal do júri.

Cupertino foi considerado culpado por triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e uso de recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. A decisão foi recebida com comoção e comemoração por familiares das vítimas, presentes no Fórum Criminal da Barra Funda, onde ocorreu o júri popular iniciado na quinta-feira (29).

Durante a leitura da sentença, feita sem a presença do réu, o juiz ressaltou que o crime foi cometido diante da filha de Cupertino e agravado pela fuga do local. Os dois outros réus no processo, Wanderley Antunes e Eduardo Machado, acusados de ajudarem Cupertino a se esconder após o crime, foram absolvidos da acusação de favorecimento pessoal.


Rafael Henrique Miguel e os pais dele, João Alcisio Miguel e Miriam Selma Silva Miguel — Foto: Reprodução/TV Globo e Arquivo pessoal

Negativa de autoria e fuga
No interrogatório, realizado no final da quinta-feira, Cupertino negou qualquer envolvimento nos assassinatos. Alegou que, ao sair da casa da filha, encontrou os corpos na rua e viu "vagabundos" fugindo. Disse ter se arrependido de não ir atrás deles e que não os denunciou à polícia por temer represálias contra sua família. Ainda assim, admitiu que era ele quem aparecia em uma imagem fugindo do local, afirmando que corria por medo dos supostos criminosos.

A versão foi rejeitada pelos jurados. De acordo com o advogado da família das vítimas, Fernando Viggiano, “a tese de defesa de negativa de autoria foi rechaçada pelos jurados”. Ele destacou a robustez das provas e o cuidado do processo para evitar nulidades. “Sabíamos que havia provas contundentes para a condenação”, afirmou.


Isabela Tibcherani e Rafael Miguel eram namorados até o pai dela matar o ator a tiros em 2019 — Foto: Reprodução/Redes sociais

O crime e a motivação
Segundo o Ministério Público (MP), Cupertino assassinou Rafael, de 22 anos, e seus pais com 13 tiros por não aceitar o relacionamento do ator com sua filha, Isabela Tibcherani, então com 18 anos. Câmeras de segurança registraram o momento do crime, ocorrido na frente da residência da jovem, e a fuga do empresário. Após o triplo homicídio, Cupertino passou quase três anos foragido, escondendo-se em diferentes estados e até em outros países. Ele foi preso apenas em 2022.

Durante o julgamento, sete testemunhas foram ouvidas, entre elas Isabela e Vanessa Tibcherani, filha e ex-mulher de Cupertino. Ambas afirmaram que não viram os disparos, mas relataram com convicção que ele foi o autor dos assassinatos. “Foi muito rápido, questão de segundos”, contou Isabela. Vanessa completou: “Ele assassinou as três pessoas a sangue frio”.

Defesa contesta provas
Na fase final do julgamento, as advogadas de Cupertino, Juliane Oliveira e Miriam Souza, argumentaram que o processo carecia de provas concretas. Afirmaram que não havia testemunha ocular, que as imagens eram inconclusivas e que a acusação se baseava em suposições. Também criticaram a ausência de perícia nas cápsulas recolhidas na cena do crime e atribuíram a fuga do réu ao medo do “linchamento midiático”.

Durante a tréplica, Cupertino permaneceu calado, mas se emocionou ao saber que sua filha havia retirado seu sobrenome. Em silêncio, abaixou a cabeça e passou as mãos no rosto. A defesa ainda apresentou uma carta escrita por uma sobrinha do empresário, tentando retratá-lo como um homem amoroso.

Histórico do caso e carreira da vítima
Esta foi a segunda tentativa de julgar Paulo Cupertino em 2024. A primeira sessão foi anulada após ele demitir seu advogado no plenário, o que levou ao reagendamento do julgamento.

Rafael Miguel ficou conhecido nacionalmente por interpretar o personagem Paçoca na novela “Chiquititas”, do SBT, e por participar de um comercial de TV em que pedia brócolis à mãe. Atuou ainda em produções da TV Globo, como "Pé na Jaca", "Cama de Gato" e o especial "O Natal do Menino Imperador".

Paulo Cupertino segue preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarulhos, na Grande São Paulo, agora com uma sentença definitiva que marca um dos crimes mais brutais e repercutidos dos últimos anos no país.