PF descobre esquema na Prefeitura de São Bernardo do Campo e apreende R$14 milhões

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 A Polícia Federal descobriu por acaso o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro na Prefeitura de São Bernardo do Campo ao encontrar cerca de R$ 14 milhões com o servidor da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Paulo Iran Paulino Costa, durante outra operação. As informações são do g1.

No dia 7 de julho, os policiais estavam por coincidência no prédio em que ele mora e, por um motivo não informado, resolveram abordá-lo e se surpreenderem ao encontrar R$ 14 milhões com ele: uma parte estava no carro e outra, no apartamento.
No total, foram apreendidos quase R$ 13 milhões e US$ 157 mil em espécie. Na época, ele não foi preso, mas, ao longo das investigações, a Justiça já decretou a prisão preventiva dele. Atualmente, ele está foragido.

Em nota, o advogado de Paulo informou que "aguarda acesso aos autos, onde se manifestará".

Nesta quinta-feira (14), o prefeito de São Bernardo, Marcelo Lima (Podemos), foi afastado do cargo por um ano após operação da PF. Um empresário e um servidor também foram presos.

O esquema investigado pela PF funcionava por meio de uma complexa organização criminosa com o objetivo de desviar recursos públicos e lavar dinheiro, envolvendo empresas nas áreas de obras, saúde e manutenção que mantêm contratos com a prefeitura e a Fundação ABC.

Segundo o inquérito policial, obtido pela TV Globo, Paulo Iran era principal operador financeiro do esquema, responsável pela arrecadação e distribuição dos valores pagos pelas empresas à administração municipal.

Ele também organizava, controlava e efetuava o pagamento de despesas pessoais do prefeito, da primeira-dama e da filha deles, como despesas do cartão de crédito, conta de telefone e mensalidades da faculdade de medicina da filha.

Paulo Iran também atuava como auxiliar legislativo no gabinete do deputado Rodrigo Moraes (PL) desde setembro de 2022. Segundo o portal da transparência da Alesp, ele recebia R$ 6.154,51 de salário.

Procurado, o deputado informou que o servidor será exonerado. "No meu mandato não aceito qualquer suspeita de corrupção ou conduta indevida", declarou.

Os investigadores descobriram que Paulo Iran e Antonio Rene da Silva Chaga — outro alvo da investigação que é diretor de Departamento na Secretaria de Coordenação Governamental — se comunicavam por celulares clandestinos.

Para gerenciar o controle de fluxo do caixa, Paulo Iran usava um método informal. Ele escrevia as entradas e saídas de dinheiro em "post-it", de acordo com os investigadores.

"Nesses diálogos e anotações, são frequentemente empregados códigos, apelidos e referências veladas a nomes de pessoas físicas e jurídicas, dificultando a rastreabilidade das operações", explica o delegado Daniel Penido Brito no inquérito.

"A atuação de Paulo Iran Paulino Costa é, portanto, fundamental para a operacionalização e gestão financeira do esquema criminoso efetivado pela organização criminosa, conectando empresas contratadas pela prefeitura ao chefe do executivo municipal e seus familiares", complementa Brito.

Operação Estafeta
A PF cumpre nesta quinta-feira (14) 20 mandados de busca e apreensão e medidas de quebra de sigilos bancário e fiscal nas cidades de São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá e Diadema.

As ordens judiciais foram expedidas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e incluem ainda afastamento de cargos públicos e monitoramento eletrônico de investigados.

Com o afastamento do prefeito Marcelo Lima, quem assume o comando da cidade é a vice-prefeita, Jessica Cormick, do Avante. Aos 38 anos, ela é sargento da Polícia Militar e está no seu primeiro cargo público eletivo.

Na operação, batizada de Estafeta, foi preso em flagrante o empresário Edmilson Carvalho, sócio da Terraplanagem Alzira Franco Ltda., que tem contrato com a prefeitura. Na casa dele, a PF apreendeu R$ 400 mil.

Também foi preso Antonio Rene da Silva, que é servidor da Prefeitura de São Bernardo e atua como Diretor de Departamento na Secretaria de Coordenação Governamental. Havia um mandado de prisão contra ele.

O atual presidente da Câmara Municipal da cidade e primo do prefeito, vereador Danilo Lima Ramos (Podemos), também é alvo de buscas pela polícia, assim como o suplente de vereador Ary José de Oliveira (PRTB).

Os envolvidos poderão responder por organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e corrupção ativa.

Procurada, a prefeitura afirmou que irá colaborar com a investigação. "A gestão municipal é a principal interessada para que tudo seja devidamente apurado. Reforçamos que o episódio não afeta os serviços na cidade", disse a administração municipal.

Marcelo Lima, prefeito afastado de São Bernardo, já foi exonerado de secretaria e perdeu mandato de deputado federal



Marcelo de Lima Fernandes (Podemos) foi afastado do cargo de prefeito de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, após uma operação da Polícia Federal contra esquema de corrupção nesta quinta-feira (14). Segundo a PF, há indícios de corrupção e pagamento de propina em contratos com empresas nas áreas de obras, saúde e manutenção.

Esta não é a primeira vez que Marcelo Lima é afastado de uma função pública. Em 2021, ele foi exonerado do cargo de secretário de Serviços Urbanos de São Bernardo e, em 2023, perdeu o mandato de deputado federal.

A exoneração de Marcelo Lima do comando da Secretaria de Serviços Urbanos de São Bernardo do Campo ocorreu em outubro de 2021. Na época, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, deflagrou uma operação para apurar denúncias de fraudes em licitações, dispensa ilegal de certames e corrupção passiva e ativa em contratos, incluindo a própria Secretaria de Serviços Urbanos, quando era titular da pasta.

Um das medidas contra Marcelo foi a "suspensão do exercício das funções públicas" como secretário. Ele foi exonerado do cargo após decisão da Justiça de São Paulo, a pedido do MP.

Em outubro de 2024, o Ministério Público informou que as medidas cautelares seguiam vigentes e o pedido de revogação apresentado por ele ainda aguardava análise judicial. O g1 pediu atualização do caso ao MP, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

Perda de mandato de deputado federal
Em 2022, Marcelo foi eleito deputado federal com 110.430 votos. Porém, em 2023, por 5 votos a 2, os ministros do Tribunal Superior Eleitoral decidiram decretar a perda de mandato por infidelidade partidária.

O então parlamentar havia sido eleito pelo Solidariedade e migrado para o PSB. O Solidariedade, então, afirmou que o deputado deixou o partido em fevereiro de 2023 sem apresentar a chamada justa causa, um requisito necessário para manter o mandato mesmo com a troca de sigla.

Pela legislação, é considerado haver justa causa quando há incorporação, fusão ou criação de partido e quando ocorre "mudança substancial ou o desvio reiterado do programa partidário e grave discriminação pessoal".

Na época, a defesa do deputado argumentou que ele saiu da sigla porque o partido não atingiu os requisitos da cláusula de desempenho (eleição de um número mínimo de parlamentares para ter acesso a recursos do fundo partidário e tempo de rádio e TV) nas eleições.

Quem assumiu a vaga de deputado federal no lugar de Marcelo Lima foi Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que era o primeiro suplente.