Pingos de Ouro

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Numa outra Sexta-feira Santa, voltando de São Paulo com meu pai, no trem do meio-dia, que chegava em Ourinhos entre oito e dez da noite, meus 11 anos de idade tornavam totalmente justificável minha omissão quanto "curtir a paisagem", própria inquietude infanto-juvenil.

O chefe do trem andava pelos vagões anunciando a chegada à cada nova estação, porém, entardeceu e anoiteceu e nada do chefe anunciar Ourinhos.


Foto: Arquivo Pessoal/ João Neto

Estava ansioso para chegar logo... Sabe aquela vontade de querer voltar para o ninho?

Então...

A todo instante, eu "enchia o saco" do meu pai, com a insistente pergunta:

-Ainda falta muito?

De repente meu pai falou:

- Tá vendo lá longe, aquele monte de luzinhas amarelas que parecem estrelinhas? Lá é Ourinhos! Exclamou.

Nooossa, fiquei encantado com aquelas luzes que mais pareciam pingos de ouro... Por muitos anos acreditei que o nome "Ourinhos" tinha a ver com aquelas luzinhas amarelas que avistamos de dentro do trem!

Se um dia Raul se inspirou na chegada do "Trem das Sete" para registrar um momento, eu, na condição de passageiro, registro minha visão de sonhador!


Foto: Reprodução

Hoje, de dia ou de noite, nas minhas viagens por aí, já não existem viagens de trem, nem meu pai, nem as estações...

Talvez a perda da inocência tenha tirado de mim a ternura do olhar infantil, onde tudo era curiosidade e fascínio.
 
Ainda assim, quando estou retornando para casa e avisto as mesmas luzinhas de ouro,  ou qualquer placa de beira da estrada, anunciando a distância para Ourinhos, meu coração se alegra, tenho a mesma sensação de quando menino, dentro do trem vendo as luzes da cidade chegando. É como se o Chefe do Trem estivesse dentro do meu carro, anunciando:

- Senhores passageiros, próxima estação, Ourinhos!

Sensação de pura felicidade!