Numa manhã de fevereiro, sete e meia mais ou menos, peguei minha bicicleta e segui para o trabalho, um "sabadão" ensolarado e bonito, eu estava só o pó, além do cansaço físico da noite em claro, o desgaste mental, preocupado com minha mãe.
Naquela madrugada ela não estava bem, acordamos todos, e meu pai tentando convencê-la de que o banheiro não era no fundo do quintal... Minha mãe, naquele instante dava os primeiros sinais de esquecimento, anomalia que gradativamente foi consumindo Dona Conceição.
O caminho do trabalho era sempre o mesmo, eu subia a Barão do Rio Branco virava à esquerda, na Duque de Caxias (aquele tempo era uma rua de mão dupla), mais cento e cinquenta metros eu estava no meu trabalho, na Serralheria Moya, bem em frente ao Marinho Veículos, revenda Dodge.
Cheguei com cara de cansado, recolhi minha bicicleta, o Moisés já estava no escritório, ao me ver exclamou:
- Bom dia, né João! Dormiu comigo? Que cara é essa? Estava até agora na gandaia?
- Não dormi nada essa noite, Moisés!
E contei pra ele sobre minha mãe, confidenciei que achava que minha mãe estava começando caducar (caducar naquela época era como chamavam o Alzheimer).
Ele, imediatamente, falou pra que eu voltasse pra casa descansar.
Voltei pra casa, minha mãe estava na cozinha - normalzinha, porém, percebi meu pai e meus irmãos não menos preocupados.
Dali a pouco o Moisés chegou em casa, trazendo Seu Mário, farmacêutico.
Seu Mário trouxe alguns remédios, porém, orientou meu pai a procurar o Dr. Fariz, era vizinho da farmácia dele, mais ou menos onde hoje é o Banco Itaú.
Dr. Fariz deu a pior notícia:
- Ela está com Alzheimer, é uma doença degenerativa e gradativa.
Ratificou os medicamentos indicados por Sr. Mário e sugeriu:
- Rezem por ela!
Minha mãe viveu mais alguns anos, foi se acabando aos poucos, como uma vela se apagando... No final da vida não reconhecia mais ninguém, foi morar com Deus em 92, virou uma brilhante estrelinha no céu!
Relembrando os fatos me dou conta que, além de mamãe, Seu Mário, Dr Fariz e o meu querido Moisés Moya também foram morar com Deus!
Que todos estejam na paz!

Dona Conceição (Foto: Arquivo Pessoal de João Neto, que foi restaurada por Reginaldo Pereira Góis)
Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos.
Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.

João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.





