Robô com inteligência artificial realiza primeira cirurgia autônoma em tecido humano nos EUA

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Em um marco histórico para a medicina e a inteligência artificial, um robô cirúrgico operado por IA realizou, pela primeira vez de forma autônoma, uma cirurgia em tecido humano. O feito ocorreu na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, com a remoção completa de uma vesícula biliar — procedimento conhecido como colecistectomia.

A cirurgia foi realizada sem interferência humana direta, e o robô demonstrou desempenho equivalente ao de um cirurgião experiente, inclusive diante de situações imprevistas. O avanço foi publicado nesta quarta-feira (10) na revista científica Science Robotics.

De aprendiz a cirurgião
Segundo os pesquisadores, o robô — batizado de SRT-H (Hierarchical Surgical Robot Transformer) — foi treinado com vídeos reais de cirurgias e aprendeu como um residente em início de carreira, recebendo orientações verbais da equipe médica como: "mova o braço esquerdo para a esquerda". Com base nesses comandos, o robô ajustou suas ações em tempo real.

“Esse avanço nos leva de robôs que executam tarefas específicas para robôs que realmente compreendem os procedimentos cirúrgicos. É uma distinção crítica”, afirmou Axel Krieger, especialista da Johns Hopkins e líder do projeto, financiado pelo governo americano.

A versão anterior da tecnologia, chamada STAR, já havia feito história em 2022 ao realizar uma laparoscopia em um porco, mas exigia um plano rígido e marcações prévias no tecido. Já o SRT-H atua de forma mais livre, comparável a “dirigir em qualquer estrada, em qualquer condição”, segundo Krieger.

Como o robô aprendeu?
A equipe da universidade treinou o robô com técnicas de aprendizado de máquina semelhantes às que alimentam o ChatGPT, da OpenAI. Inicialmente, ele executou tarefas básicas como manipular agulhas, levantar tecidos e fazer suturas. Depois, passou a assistir a cirurgias reais com legendas detalhadas de cada etapa, aprendendo a identificar dutos, artérias e a aplicar os clipes e cortes corretos.

No total, o procedimento de remoção da vesícula envolve cerca de 17 etapas. O robô executou todas elas com 100% de sucesso, mesmo diante de desafios inesperados, como mudanças na posição inicial da máquina e alterações visuais simuladas nos tecidos com corantes parecidos com sangue.

Tecnologia que aprende e reage
Durante a operação, o SRT-H foi mais lento que um cirurgião humano, mas sua precisão, adaptação e segurança impressionaram. “Ele agiu com a calma e a habilidade de um cirurgião experiente”, relatou Jeff Jopling, médico da equipe e coautor do estudo.

Além disso, o sistema demonstrou capacidade de aprender com feedback e adaptar-se a diferentes anatomias humanas — habilidade essencial para o atendimento em situações reais, que costumam ser imprevisíveis.

Futuro da cirurgia robótica
Com os resultados positivos, os pesquisadores defendem que a cirurgia autônoma está cada vez mais próxima de se tornar realidade em hospitais. “Mostramos que modelos de IA podem ser confiáveis o suficiente para assumir tarefas complexas na medicina”, destacou Ji Woong Kim, coautor do estudo e pesquisador da Universidade Stanford.

Embora ainda não esteja pronta para uso clínico em pacientes vivos, a tecnologia representa um avanço decisivo rumo a sistemas cirúrgicos autônomos, precisos e interativos, capazes de atuar com segurança mesmo nas situações mais complexas da medicina moderna.