Tocando em frente

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Quando fiz 21 anos, meu pai já tinha 65... Às vezes eu olhava para meu pai e pensava:

- Nossa, meu pai já tem 65 anos, tá bem velhinho, coitado... Cabelos brancos, passos lentos, olhar distante. Sua vitalidade está no finalzinho. 

Eu refletia sobre sua idade, concluía que a velhice, talvez, fosse um castigo de Deus.

Ocorre que meu pai ainda viveu mais 25 anos, faleceu com 91, o diagnóstico: câncer de próstata.

- Qual o motivo dessa conversa, João? Perguntariam vocês.

Bem, anteontem completei 65 anos, a mesma idade com a qual taxei meu pai de "velho".

Estou me sentindo tão bem, disposto... Ainda estou trabalhando, fazendo minhas caminhadas, escrevendo, enfim, pareço um menino.

Até o espelho de agora, tão desalmado e cruel, ainda me vê com bons olhos, me reconhece como um jovem de meia idade.

É claro e evidente que o tempo judia da gente, a pele perde a textura, os cabelos raleiam e embranquecem sem pedir licença, mesmo assim ainda estou fazendo planos para o futuro, ainda tenho sonhos - acreditem - tenho sonhos!

Diante disso, penso que fui precipitado em julgar velho meu pai.

Certo mesmo está o Renato Teixeira:
"Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe, só levo a certeza de muito pouco sei, eu nada sei!"