Trump impõe tarifa de 50% sobre exportações do Brasil e ameaça ampliar medidas contra países do Brics

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras destinadas ao mercado americano. A medida, formalizada por meio de uma carta pública endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está prevista para entrar em vigor a partir de 1º de agosto de 2025 e tem potencial de impactar setores estratégicos da economia brasileira, como o aço e o alumínio.

No texto, Trump citou diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, classificando seu julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como uma "vergonha internacional". Ele acusou, sem apresentar provas, o STF de realizar "centenas de ordens de censura secretas e ilegais" contra plataformas de mídia social dos EUA — argumento usado como base para a adoção das novas tarifas.

"Essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos", diz a carta.

Medida surpreende governo brasileiro
O anúncio pegou o governo brasileiro de surpresa. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que as negociações com os EUA giravam em torno de uma possível tarifa de 10% sobre países do Brics, e que não havia indícios de que o Brasil seria alvo de uma tarifa abrangente de 50%.
A pasta ressaltou ainda que o argumento de Trump sobre déficit comercial não se sustenta: o Brasil acumula déficits com os EUA desde 2009, totalizando mais de US$ 90 bilhões até junho de 2025 — ou seja, os EUA vendem mais ao Brasil do que compram.

Investigação e ameaça de retaliação
Além da tarifa, Trump determinou a abertura de uma investigação formal contra o Brasil por práticas comerciais desleais, com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974. Esse dispositivo permite aos EUA adotar medidas unilaterais para proteger seus interesses econômicos, como tarifas adicionais e sanções.

Trump também afirmou que, caso o governo brasileiro reaja com retaliações, as tarifas americanas poderão ser ampliadas ainda mais. Em sua carta, o republicano sugeriu que empresas brasileiras podem evitar a nova tarifa caso produzam ou montem seus produtos em solo americano.

Alvo geopolítico: Brics
O movimento faz parte de uma ofensiva mais ampla de Trump contra o grupo de países do Brics — que reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outras nações emergentes. Na véspera do anúncio, o presidente americano declarou que os países do bloco estariam tentando “destruir o dólar como moeda padrão global”, e prometeu uma tarifa extra de 10% sobre todos os integrantes do Brics, como punição.

“Qualquer país que fizer parte do Brics terá uma tarifa de 10%, apenas por esse motivo. Se eles quiserem jogar esse jogo, tudo bem, mas eu também sei jogar”, afirmou Trump.

Em resposta, o presidente Lula criticou as declarações e reafirmou a soberania dos países do Brics, dizendo que o Brasil “não aceita intromissão de quem quer que seja” e que “defende o multilateralismo” nas relações internacionais.

Nova rodada de cartas e tarifas globais
Trump também notificou outros sete países nesta quarta-feira, como Argélia, Filipinas, Brunei e Líbia, com tarifas variando entre 25% e 50%. No total, 22 países já receberam comunicações oficiais do governo americano com novas alíquotas sobre produtos importados. As medidas integram uma estratégia de pressão comercial global, especialmente contra nações que o governo Trump classifica como “antiamericanas”.

Especialistas veem motivação política
Para analistas internacionais, a medida possui forte componente geopolítico e eleitoral, mirando a base conservadora de Trump e a sua retórica de proteção da indústria americana. As ações também ocorrem num contexto de crescente tensão entre EUA e países emergentes, e podem marcar um novo ciclo de atritos comerciais multilaterais.

A escalada tarifária deve gerar impactos importantes no comércio exterior brasileiro, e o governo Lula deverá avaliar caminhos diplomáticos e jurídicos, incluindo possíveis recursos em instâncias internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC).