Com a chuvarada daquele final de inverno os carpinteiros, incluindo meu pai, penavam para ganhar dinheiro, os serviços de carpintaria paravam, por consequência, atrasava a entrada de dinheiro.
Obviamente, havia atraso no pagamento das despesas da casa: água, luz, alimentação e etc.
A salvação na parte alimentar era o bendito Empório do Vitório Toloto, um “italianão” boa gente que nos vendia fiado, entregava os produtos e anotava tudo na famosa caderneta de compras.
Ainda hoje, parece que estou ouvindo minha mãe:
- Corre no empório do Toloto, leva essa listinha de compra e pede pra ele "marcar" na caderneta. O empório era pertinho de casa na Barra Funda, na Rua Brasil, em frente a Capela do Sagrado Coração de Jesus.
Ali era relacionado a data da compra, os produtos comprados e seus respectivos preços. Verdadeiro documento de compromisso e confiança.
Na nossa caderneta além do arroz, feijão, óleo, farinha, ovos e sabão, o que chamava a atenção era a quantidade maços de cigarro, especificamente o tal "Continental sem filtro".
Acho que o tempo chuvoso que hoje paira no ar me remeteu a tais lembranças, um tempo em que, para amenizar dificuldades, havia anjos pra nos ajudar, Seu Vitório foi um deles, acreditem.
Confira também: Onde Vocês se Esconderam?
Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos.
Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.
João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.