João Neto: ‘Cachecol Vermelho’

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Naquela semana ganhei quase nada engraxando sapatos... Porém, coloquei na cabeça que era minha obrigação comprar um presente de aniversário para minha mãe, 5 de dezembro estava chegando, faltava menos de um mês, mas teria que ser um presente compatível com a beleza dela.

Pensei num bibelô, um perfume ou um elegante cachecol vermelho. 

Três dias antes, vendo que não conseguiria o dinheiro, bati palmas na casa da Dona Iraci e pedi pra ela me dar um cacho de bananas, que estava pendendo por sobre a cerca de taquaras, do lado da Barão do Rio Branco!

- Pra que você quer as bananas, Marreco?

- Vou vender e comprar um presente pra minha mãe!

Dona Iraci não só me deu as bananas, como cortou em pencas.

Coloquei no meu carrinho de pau e corri até a quitanda da Dona Maria Japonesa, que ficava pertinho de casa, oferecer as bananas.

Ele comprou tudo por 10 cruzeiros... Peguei o dinheiro e corri todo felizão para o Bazar do Pedrinho.

Putz... Que decepção! Não tinha presente bom por menos que 30 cruzeiros.

Entristecido estava saindo do bazar quando vejo na prateleira os frascos de "Leite de Rosas"... Custava oito cruzeiros e sua embalagem rosa era bem bonita.

- Embrulha pra presente! Pedi... 

Os dois cruzeiros do troco comprei uma Nugget preta, porque a minha estava acabando. 

No sábado entreguei o presente da minha mãe, meio chateado, por não ter conseguido comprar nada melhor.

Que nada, ela ficou muito feliz, me abraçou e disse aquela frase mágica:

" Deus te abençoe", João!

Palavras da Salvação!!!!!!

Veja também: Uma salva de palmas para os loucos!

Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos. 

Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.

João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.