João Neto: ‘Tempo de Natal’

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Ao abrir a caixa do correio percebo que começaram as promoções de final de ano nas lojas de departamentos.

"Então é Natal" já canta a Simone.

Um amigo, antecipando felicitações natalinas, colou uma linda árvore de Natal na minha página do "face"...

Voltei no tempo... 

A total falta de recursos, de outrora, obrigava-nos a montar nossas árvores de Natal usando espinhentos galhos de limoeiro, recortes de jornais, tampinhas de garrafas e retalhos de tecidos velhos... Ah, os chumaços de neve eu recolhia nas lixeiras das farmácias da cidade, era algodão usado.

Não sei se foi culpa da positividade ou o simbolismo que as árvores de Natal sugerem... Acredito que as orações ao Menino Jesus foram atendidas. A verdade é que nossas árvores de Natal, tal qual nossa vida, foram melhorando em qualidade e aparência.

A fome não mais sentou em nossa mesa, as ceias natalinas ficaram recheadas de chocolate, panetone, presentes e felicidade.

Hoje, passados muitos anos, começo montar minha árvore de Natal, sem ostentação... Desta vez o único luxo será a neve artificial: usarei algodão da Johnson & Johnson, aquele de 25 reais o pacote.

E nossa árvore de Natal será assim, simplesinha, pra lembrar que é necessário que se prove o amargo do suco da vida, para que se de valor às conquistas, à saúde, às amizades, à vontade de vencer e o sublime amor a Deus.

Apesar das lembranças, o céu escuro não mais habita nossas vidas... Hoje meus momentos são radiantes, e minha árvore de Natal, ainda que montada sem aparatos, emanará um brilho silencioso, e, por causa da presença algumas folhas de limoeiro, vai exalar um suave perfume cítrico.

Tudo que nos remete à certeza da renovação, das esperanças e das vitórias!

Desde já... Feliz Natal!

Foto: Arquivo Pessoal/ João Neto 

Veja também:  ‘Cachecol Vermelho’ 

Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos. 

Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.

João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.