João Neto: O som do coração

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Quantos atropelos, quanta correria desnecessária a ponto de canibalizar momentos.

Nem ao menos prestei atendimento emergencial e esses momentos ficaram para trás, agonizantes, enquanto eu segui minha correria desenfreada. Corria tanto que, às vezes, me faltava fôlego.

Ocorre que somos mutantes...

Não falo dos mutantes dos filmes de ficção, que ejetam monstros de tudo que é poro... Somos mutantes na versão 'revisão dos conceitos': adaptáveis, recicláveis, ajustáveis e passíveis de adequação.

Eis que chega a metamorfose pretendida...

Momento da pausa, do respirar profundo, do sentir a brisa escorrendo telhados e da chuva beijando vidraças.

Agora estás aqui...

Hora de curtir a vida e compartilhar a posse definitiva da felicidade.

Não corro mais, encontrei o lado que me faltava... Hoje saboreio e calculo cada passo, experimento seus passos, piso com eles. No instante em que mudas o passo, as coisas passam, nossos passos passam, siameses - lado a lado, e deixam pegadas no cimento molhado.

Eu, ainda lagarta, te convido a me ensinar voar, borboleta. Minha vida agora é sua, vamos sair por aí e surfar nossos sonhos... Vamos flanar por rios de espuma, caminhar avenidas e colher sempre-vivas.

Sinta minha mão na tua mão... Percebe? Está viva, deliciosamente viva!

Agora, encoste sua cabeça no meu peito, vou fazer silêncio, prometo... Ouça apenas o batuque do meu coração: tum-tum  tum-tum  tum-tum...

Confira também: A chave do portão

Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos. 

Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.

João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.