Confira o áudio acima
Manifestantes estiveram, na noite desta segunda-feira, 2, na Câmara Municipal de Ourinhos, para protestarem em prol à melhoria da saúde pública do município, pedindo o retorno da médica Valeska Abud à UPA 24 (Unidade de Pronto Atendimento de Ourinhos) e a abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar supostas irregularidades na unidade, que vive uma grande crise administrativa após vazamento do áudio do direto técnico, o médico Jan Chryslen Silva da Costa, que declarou, em conversa com a médica Valeska; “Se o paciente não for morrer, não interna. Não interna!! Manda pra casa, faz receita, não é pra internar se o paciente ficar com coisinha "no" UPA”.
Relembre: “Só interna se o paciente for morrer!”; Vaza áudio atribuído ao diretor da UPA de Ourinhos
O Passando a Régua esteve presente e acompanhou toda a discussão no plenário da Câmara (veja o vídeo abaixo), que ficou lotado, mas não foi o suficiente para sensibilizar os vereadores da base aliada do prefeito Lucas Pocay (PSD), que não deram nenhuma consideração aos pedidos dos manifestantes e não instalaram a tão solicitada CPI da UPA, que, com apenas três assinaturas {dos vereadores Edvaldo Lúcio Abel (PSDB), Salim Mattar (PSDB) e Flávio Luis Ambrozim (MDB)} não obteve o número necessário, de cinco assinaturas, para ser protocolada e ir ao plenário.
Câmara ficou lotada (Foto: Divulgação)
Com o discurso de que a oposição quer politizar a crise na UPA, os vereadores da situação, que ficaram calados na última quinta-feira, 27, quando o vereador Vadinho divulgou pela primeira vez o áudio do médico Jan, desta vez se colocaram em defesa firme e sistemática ao prefeito Lucas e não deram ouvidos aos manifestantes.
“Nós repudiamos a fala do diretor, Jan. Foi extremante infeliz e irresponsável, mas estão querendo usar da política do quanto pior melhor e isso não podemos aceitar. Foi aberto um processo administrativo e o diretor foi afastado do cargo, isso já é o suficiente para apurar o que realmente aconteceu”, bradou da tribuna o vereador Éder Motta (PSC), talvez o maior defensor do prefeito na Câmara.
Diversos cargos comissionados da Prefeitura de Ourinhos também estiveram presentes para garantir o apoio ao prefeito Lucas (Foto: Divulgação)
O vereador Vadinho, por diversas vezes, pediu para que, pelo menos, mais dois vereadores se apresentassem para assinar a deliberação da instalação da CPI da UPA, para que seja investigado supostas irregularidades, ainda mais escancaradas com a divulgação do áudio do diretor, mas nenhum dos 12 vereadores de situação se manifestou favorável às investigações.
“Eu tenho em minhas mãos uma relação de 13 mortes suspeitas que aconteceram na UPA de Ourinhos. Pessoas que podem ter morrido por falhas no atendimento e isso precisa ser apurado. O processo administrativo aberto pela Organização Social Pró Vida, não é o suficiente, precisamos de uma CPI para colocar tudo a limpo”, falou o vereador, inconformado com a indiferença dos vereados da base do prefeito Lucas Pocay, que certamente estão mais preocupados com os benefícios concedidos pelo gestor municipal (como cargos comissionados e apoio nas eleições que estão chegando), do que em melhorar o atendimento da saúde no município de Ourinhos.
A última esperança é a OAB de Ourinhos
A última esperança de abertura de uma CPI da UPA, na Câmara de Ourinhos, é o pedido feito pelo presidente da 58ª Subseção da OAB-SP, Dr. Fernando Alves de Moura, que também está oficiando o Ministério Público, para que seja aberto um Inquérito Civil, com objetivo de apurar, se, a fala do diretor técnico Jan, correspondia com a metodologia de trabalho da UPA de Ourinhos. A OAB também quer que seja feito um levantamento de quantas pessoas podem ter morrido em decorrências de possíveis falhas no atendimento, ou até mesmo pela demora na transferência para o hospital referência, que é a Santa Casa de Ourinhos.
Volta da Drª Valeska
Drª Valeska recebe carinho de pacientes que pedem a sua volta à UPA de Ourinhos (Foto: Divulgação)
Outra reivindicação dos manifestantes é para que os vereadores pressionem a direção da UPA de Ourinhos e que a médica Drª Valeska, que foi demitida, no dia 18 de fevereiro, seja readmitida na unidade. Diversas faixas e cartazes com os dizeres “Volta Valeska!” foram levadas à Câmara. O Passando a Régua conversou com médica, que está no centro de toda essa polêmica com o diretor Jan, o qual ela disse considerar totalmente despreparado para função que ocupava.
Valeska disse que o principal motivo que a fez divulgar o áudio do ex-chefe, foi o constrangimento, que ele estaria lhe causando, após sua demissão, dizendo que ela não tinha competência para exercer a função na UPA, por não ter especialização necessária. Confira a fala completa da médica no vídeo abaixo:
Divulguei o áudio porque é a pura verdade
“Aquele áudio é verdade. Acontecia com todos os médicos. Ele é um médico recém formado. Comecei a sofrer muita represália. Virei chacota dos médicos. Não podia pedir exames para os meus pacientes. Eu não me formei médica para tratar mal os pacientes”.
Valeska desmentiu o prefeito que afirmou que a médica teria sido mandada embora do AME e da Santa Casa de Ourinhos
“Isso é um grande erro. Do AME, eu sai, porque não queria ficar lá, porque não compensava pra mim. Eu sai da Santa Casa porque abriu a UPA. Nessa época eu trabalhava nos postos de saúde e na Santa Casa e na medida que fui pegando mais plantões, resolvi sair da Santa Casa, não fui mandada embora”.
Sobre ter outros áudios e se mais médicos receberam as recomendações de Jan
“Não, acho que só tenho este áudio. Se mandou para outros médicos eu não posso falar”
Se ela tem interesse político
“Eu não tenho interesse politico nenhum. Eu só coloquei na mídia o áudio porque ele começou a difamar a minha pessoa, dizendo que eu não tinha especialidade, capacidade. Ele começou a me denegrir. E ele me mandou estes áudios absurdos. O que eu tenho de médica, ele não tem de nascido”.
Natural de São Mateus, interior do Espírito Santo, Valeska disse que cresceu dentro de hospitais, já que o pai é médico e tem outros familiares médicos. Agora ela deve começar atender na UPA de Santa Cruz do Rio Pardo e tem convites de outros municípios.
Ela voltaria à UPA de Ourinhos?
“Sim. Claro”.
“Eu achei um absurdo uma pessoa dar uma ordem. Jan tem de comer muito feijão”.
Presenciou alguma morte por problemas de atendimento na UPA?
“Eu não vi ninguém morrer por isso. Pelo menos as que eu atendi”
Como foi sua demissão?
“Chegou um gestor, que eu nunca tinha visto, da Pro Vida e disse que iria me mandar embora. Porque eu não sei. Eu nunca discuti com ninguém”.
Mas por que te mandaram embora, então?
“Deveria perguntar para ele (Jan)”.
Como você enxerga a saúde pública de Ourinhos?
“Eu fico muito triste por pessoas não ter uma vaga na Santa Casa. Deveria melhorar mais a saúde do município”.
Confira a fala completa da médica no vídeo abaixo: