Crônica do Vivan; A Vila Nova e os bares de Ourinhos

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Pela Vila Nova

De três a quatro dias por semana eu passava pela Vila Nova, pelo menos três que é quando ia à datilografia.

Fiz na Rui Barbosa, muita gente fez no Jorginho, não me lembro, mas depois ouvi dizer que o Zé Godoy também dava aulas, acho que na Barra Funda, daí dava até para ir pela linha do trem, mas com certeza quem aprendia com ele morava para baixo da linha.

Eu morava a um quarteirão da igreja, próximo da Rui Barbosa, mas preferia descer a Souza Soutelo, atravessar a linha e ir pela Vila Nova, mas também lá já era quase centro, saía pelo Pátio da Rede ao lado do campo de bocha e já estava no pontilhão a três quarteirões da praça e de praça de cidade pequena é fácil ir para qualquer lugar.

Para não esperar chegar ao Centro, caso não tivesse parado no Bar do Joel, era só atravessar e na esquina com a rua Bahia tinha a Mercearia e Bar do João Zaparolli.

Se continuasse reto, chegava no bar com mesas de snooker na esquina com a Rio de Janeiro e quem estava ali dava um pulinho no Armeiro para ver bicho embalsamado e arma velha.

Dalí para a Rui Barbosa dava uns noventa metros, mas dos três a quatro dias que eu ia pela Vila Nova este era o quarto, justo o dia que eu não tinha aula.

E para a rodoviária, era um quarteirão, local com muitas novidades, tinha punhal, canivete, binga, fluído, pedra de isqueiro, baralho, chaveiro, rapé, dado, espelhinho (de time e de mulher), pente, brilhantina, fumo, Trim (de cortar unhas), cachimbo, piteira, bússola, selo para coleção, anel de caveira, anel de coruja, brucutu para fazer pingente, pião, espoleta, chumbinho, revistas de modinhas musicais, gibis, fotonovelas, figurinos e revistas em geral, Jintan, Mentex, papel para fazer cigarros e muito mais.

Cigarro americano, catecismo, pomadinha japonesa, pólvora, soco inglês, bebida importada, pó de mico, ..., era na encolha.

No meio ficava o Bar e Restaurante do Delfino, alternativa para uma parada rápida, cafés e “birinaites”, um biscoitinho ou outro, coisas para quem ia viajar.

No final das plataformas assinaladas na sarjeta da Rua São Paulo já com paralelepípedos, ficavam os modernos “Expressinhos", peruas Kombi que faziam viagens às cidades próximas, para onde normalmente não dava lotação em ônibus, antes das peruas, era em furgões.

Depois vinham os guichês de encomendas onde também ficavam os fardos de jornais que vinham de São Paulo, a gente ia lá para saber como andava o mundo, queria saber da Guerra Fria, da Ditadura, do homem na Lua, da Primavera de Praga, da guerra do Vietnam, dos festivais de rock, ...mas vinha pouco conteúdo nos jornais, a TV não mostrava nada e as rádios também muito pouco, devido a censura do regime militar e dos interesses norte-americanos.

Descendo mais um quarteirão tinha a estação ferroviária que ainda era opção para viagens às cidades da linha da Sorocabana, ia até São Paulo e de lá para o litoral, era mais barato do que o ônibus, porém mais demorado, era opção também para ir ao Paraná. A linha férrea começava a ser usada mais para o transporte de cargas com o crescimento da indústria automobilística e consequentemente era cada vez maior a ampliação e o uso das estradas de rodagens.

Daqui se descesse a Cardoso quase inteirinha pela lateral da igreja, cruzando a Boa Esperança, chegava na "Estrada Oficial" e dava para ir à qualquer parte, foi de lá que futuramente eu ganharia o mundo.

Mas na estação, só mesmo o bar que não fechava ou para pegar charrete, meio de transporte que funcionava 24 horas, pois atendia a zona de meretrício.

Para beber lá em dia de baile tinha que ter cuidado para não cair, a extensa área em volta do bebedouro dos cavalos era de um paralelepípedo muito liso e nós usávamos sapatos com sola de couro pregado com tachinhas, biqueira de aço e salto carrapeta, não era bolinho andar ali e íamos beber no bar, não no bebedouro, tinha que seguir uns cem metros quase patinando no chão escorregadio.

De uma saideira à outra, eu ia indo...

Do Bar Marabá, que também não fechava, eu preferia voltar pela Vila Nova, passava no Palmeirinhas, já não tinha mais ninguém, o Joel já estava fechado, sempre encontrava um amigo na mesma situação, voltando, descíamos pela avenida Rodrigues Alves, as luzes no Zaparolli acesas mas as portas ainda fechadas.

Restava o bar da esquina já abrindo, o Armeiro fechado, na Rui tudo apagado, minha casa era perto de tudo, de lá para a praça era um pulo, e de praça de cidade pequena é fácil ir para qualquer lugar.

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