Indignação marca enterro de motorista morto a tiros no Aeroporto de Guarulhos durante ataque a empresário

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A revolta e comoção tomaram conta do enterro do motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, de 41 anos, nesta segunda-feira (11), em Guarulhos. Celso foi morto no sábado (9), após ser atingido nas costas por um tiro de fuzil durante um ataque no Aeroporto Internacional de Guarulhos, que tinha como alvo o empresário Antonio Vinícius Lopes Gritzbach, delator de crimes do PCC.

Os familiares de Novais, que deixam esposa e três filhos, cobram apoio do Governo de São Paulo e da concessionária do aeroporto. "Ninguém ligou nem para dar ‘meus sentimentos’", desabafou Simone, viúva de Novais. A GRU Airport, responsável pelo aeroporto, afirmou ter prestado socorro imediato e colabora com as investigações, fornecendo imagens de câmeras de segurança às autoridades.

Novais, que trabalhava diariamente no aeroporto, foi baleado enquanto aguardava clientes no Terminal 2. Antes de falecer, ele enviou um vídeo à esposa de dentro da ambulância informando que havia sido ferido. Ele perdeu um rim e parte do fígado, e apesar de passar por uma cirurgia, não resistiu aos ferimentos. Durante o enterro, marcado por forte emoção, familiares vindos de Brasília acompanharam a cerimônia, e a mãe do motorista, inconsolável, precisou ser amparada.

O ataque que vitimou Novais ocorreu enquanto Gritzbach, o alvo, chegava de viagem. Os criminosos, que o aguardavam, realizaram ao menos 27 disparos, atingindo o empresário com dez tiros de fuzil.
 
O delator do PCC executado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, se recusou a entrar no programa de proteção, segundo o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo. Ele havia fechado um acordo de delação premiada em março.

Em entrevista ao Em Ponto, da GloboNews, Gakiya disse nesta segunda-feira (11) que Antonio Vinicius Lopes Gritzbach alegava que podia bancar a própria segurança e não queria abrir mão do estilo de vida que levava. Ao entrar no programa, ele precisaria mudar de casa e deixar de conviver com a família e amigos.


Gritzbach  fechou delação com o MP - Foto: Reprodução 

No entanto, um vídeo a que a TV Globo teve acesso mostra que Gritzbach chegou a pedir mais segurança ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) para fechar acordo com promotores contra a facção criminosa e policiais.
No encontro, cuja data não foi informada, Gritzbach disse: "Tenho comprovantes de pagamento, tenho contrato, tenho matrícula, tenho as contas de onde vinham o dinheiro, então dá pra gente fazer o caminho inverso. Tenho as conversas de Whatsapp com os proprietários. Eu apresento, doutor, mas cada vez mais eu preciso de mais segurança. Então, eu precisava de um amparo de vocês também do que eu vou ter. Se não, vocês estão falando com um morto-vivo aqui".

Ao Fantástico, a defesa de Gritzbach confirmou que foi opção dele de não aceitar a entrada no programa de proteção.

"Ele precisa romper todos os laços com a sua vida, inclusive com o envolvimento com o crime. Ele deixa sua moradia, seu trabalho, os laços familiares e vai para o programa, mas ele se recusou a ir para esse programa”, afirmou o promotor, que é do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco).

De acordo com o promotor, que há décadas investiga os tentáculos do PCC no estado de São Paulo, Gritzbach lavava dinheiro para o crime organizado havia mais de dez anos, através da venda de imóveis, bitcoins, joias, postos de gasolina e fintechs – empresas financeiras digitais. “Ele era um arquivo vivo muito perigoso”, afirmou.

Gritzbach respondia a um processo criminal por duplo homicídio, ao mandar matar um ex-chefe do PCC chamado "Cara Preta’" e o motorista dele em dezembro de 2022, além de vários processos por lavagem de dinheiro. Ele estava em liberdade graças a um habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Na bagagem, 
Gritzbach  levava mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de valor. Segundo fontes da polícia, ele tinha ido à capital alagoana cobrar uma dívida.


Gritzbach levava na bagagem joias e objetos de valor que somavam mais de R$ 1 milhão — Foto: Reprodução

Nenhum dos quatro policiais militares contratados como seguranças particulares estava com ele no momento do assassinato. Segundo depoimento deles à polícia, um dos carros que iriam buscá-lo no aeroporto teve um problema na ignição e o outro teve de fazer meia volta para deixar um dos ocupantes em um posto de combustível.

Investigadores desconfiam dessa versão (leia mais). Uma das linhas de investigação é que os seguranças teriam falhado de forma proposital.
 
Para Gakiya, a morte de Gritzbach em plena luz do dia, dentro do aeroporto mais movimentado do país, foi uma "audácia muito grande" e um "recado" do crime organizado à sociedade.